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Ventilação Não Invasiva (VNI): quando funciona, quando falha e quando está contraindicada

Ventilação Não Invasiva MedNobel
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Dr. Josué Vieira

Médico Nefrologista, com 10 anos de atuação em emergência e UTI

CRM-MS: 14123
RQE: 8359 (Clínica Médica)
RQE: 8519 (Nefrologia)

RESUMO

Um caso real do pronto-socorro

Uma senhora idosa de 64 anos, hipertensa, diabética e obesa, chega ao pronto-socorro com febre, tosse e dispneia há cinco dias. A frequência respiratória está em 35, a cardíaca em 125, a pressão em 80/55 mmHg e a saturação em 82%.

Ela encontra-se sonolenta (Glasgow 12), oligúrica, em choque. A gasometria revela uma PaO₂/FiO₂ de 180, pH 7,20, bicarbonato 14 e PaCO₂ 46 mmHg. O raio-X de tórax demonstra uma consolidação à esquerda e um derrame pleural significativo.

É feita expansão volêmica, mas não há resposta. Inicia-se noradrenalina, que rapidamente escala para 0,4 µg/kg/min. O médico assistente opta por ventilação não invasiva (VNI). Passa-se uma hora, depois duas, depois três. A paciente segue taquipneica, mais sonolenta, saturando 90–92% apenas com FiO₂ de 60%. A noradrenalina sobe para 0,5 µg/kg/min.

O que vemos aqui? Vou responder da maneira mais sincera possível!
Um exemplo clássico de uso inadequado da VNI, que apenas retardou a intubação orotraqueal e aumentou o risco de morte dessa paciente.

Paciente em ventilação não invasiva (VNI) com máscara facial oronasal, conectada a ventilador mecânico. A interface cobre nariz e boca, permitindo aplicação de pressão positiva contínua sem necessidade de intubação orotraqueal.

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O que a literatura mostra sobre a VNI

A VNI é uma ferramenta poderosa, isso é inegável, mas funciona bem apenas em contextos específicos, onde seu benefício é bem demonstrado na literatura amparando seu uso em evidências, como:

  • Edema agudo de pulmão congestivo → o uso de vasodilatadores endovenosos como a nitroglicerina e diuréticos de alça, melhora rapidamente a mecânica ventilatória, após descongestão eficaz, por negativar o balanço hídrico e reduzir a pré carga cardíaca.
  • Exacerbação de DPOC com acidose respiratória aguda → reduz trabalho respiratório e hipercapnia, ao melhorar a ventilação alveolar, enquanto agentes broncodilatadores e corticóides reduz a resistência e a inflamação nas vias aéreas..
  • Insuficiência respiratória hipoxêmica em imunossuprimidos → pode evitar intubação precoce, minimizando as infecções oportunistas que pioram sobremaneira o prognóstico desse grupo de pacientes.

Fora desses cenários, o benefício é muito limitado.

Contraindicações absolutas da VNI

Há situações em que a VNI não deve nem ser tentada:

  • Rebaixamento grave do nível de consciência (exceto rebaixamento leve em casos de encefalopatia hipercápnica em pacientes com DPOC exacerbado).
  • Instabilidade hemodinâmica ou choque séptico.
  • Hipoxemia grave e refratária (PaO₂/FiO₂ < 200).
  • Acidose metabólica aguda significativa.
  • Incapacidade de proteger a via aérea (risco de broncoaspiração).
  • Falha precoce após início da VNI.
  • Vômitos incoercíveis
  • Obstrução da via aérea alta
  • Incapacidade de colaboração por parte do paciente
  • Trauma bucomaxilofacial extenso

Na paciente do caso, havia grande parte dessas contraindicações: pneumonia comunitária grave, múltiplas disfunções orgânicas, choque séptico refratário, acidose mista e rebaixamento de sensório. O uso de VNI aqui apenas atrasou a intubação.

Como reconhecer falha da VNI: o Score HACOR

Mesmo quando indicada, não basta iniciar VNI. É preciso monitorar e calcular o risco de falha. Para isso, temos o score HACOR, simples e validado, que deve ser aplicado com uma hora de VNI:

  • H: Heart rate (frequência cardíaca).
  • A: Acidose (pH).
  • C: Consciência (Glasgow).
  • O: Oxygenation (PaO₂/FiO₂).
  • R: Respiratory rate (frequência respiratória).

Se o score for ≥ 5 pontos em uma hora de VNI, a taxa de falha é altíssima. Estudos mostram que pacientes com HACOR elevado mantêm risco de falha em 12, 24 e 48 horas, e, se a intubação for retardada, a mortalidade aumenta.

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A lógica da VNI

A VNI é um suporte ventilatório não invasivo que só funciona se o paciente:

  • estiver consciente e colaborativo;
  • tiver uma causa potencialmente reversível em curto prazo.

É por isso que o edema agudo de pulmão e o DPOC exacerbado respondem tão bem, porque em poucas horas conseguimos tratar a causa de base.

Já em cenários de choque séptico, falência orgânica múltipla ou pneumonia grave, a VNI não é solução, é apenas um atraso perigoso. Tais disfunção podem persistir por dias a semanas até resposta clínica satisfatória.

Conclusão prática

  • Indique VNI apenas nos cenários validados pela literatura.
  • Avalie contraindicações sempre (mais importante do que saber indicar a VNI é saber quando contraindicar a VNI, guarde esse mantra com você).
  • Monitore rigorosamente a resposta com o score HACOR (indique e monitore).
  • Não insista diante de sinais de falha precoce (estime o risco de falha em 1h com o score HACOR).

Na emergência, o tempo perdido com VNI mal indicada pode custar a vida.

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